Conjunto habitacional 581

Um quarto branco, uma cama branca e uma tinta pura. Mais ainda, mas “ainda” não diz nada, querideza (o bom e velho jornalismo), são os quadros por todos os lados, todos os quadros des-marcados, um cara ouvindo música, um cara que jamais se repete. Por isso não é ainda, é. Esse cara não para e nem dá stop, é ele, nós somos feito dele. Ele é feito de nós, misturamos tudo, e isso é terrivelmente bom. É mais ainda, “ainda” não diz nada, nunca parou, quando paramos, já estamos assumindo algo muito mais movimentado, um cara que canta junto. Vamos ficar parados e assumir nossa condição movimentada. As palavras nesse dia fizeram o público não perceber tudo, e assim os mecenas não podem mais continuar a fazer propaganda deles mesmos, é bobagem fazer isso, o que foi feito já foi feito, não nos esqueceremos e agradecemos. As palavras que vingaram natureza foram desse cara: “A arte deve primeiro e em primeiro lugar embelezar a vida”. O fato de você não mudar, garante a possibilidade de você nunca se repetir, então se torna cada vez mais aquilo que precisamos de você sem ao menos alguém saber por que. Um quarto de Adir Sodré é inteiramente público, aquele quarto não existe né, Adir? Que invenção é essa? Não é físico, como você faz isso? Fiquei encabulado. A sua arte provoca o encontro com a desapropriação, usa dos sentidos para dizer das coisas mais importantes sobre conexão, sobre nossa confusão e sobre uma casa quarto, uma cidade quarto, um mundo quarto, um quarto de um quarto, de um todo, para ser mais claro. Será que o mecenato é a humana da distribuição de renda? Outra, Adir Sodré é um ator. Um ator que faz tudo, tudo menos teatro; no teatro tem verdade, mas é tudo mentira, por isso ele não faz teatro. Quando ele faz teatro é no sentido de elaboração, labor, montagem, compromisso, e quando fica “besterento”, daí, escreve em seu mundo de beleza – “essa bucetinha é minha” logo em seguida dispara: “não perder a ternura”. - Adir, o quarto é a minha casa. Falando nisso, você já pintou a cidade inteira, viajou pelo mundo, já teve grandes e tem grandes amores, que tal agora você se dedicar à música também; vamos montar uma banda? ;)Podemos chamar o João Sebastião pra tocar com a gente. Enfim (facilidade), fazemos revolução para dialogar com o fim da marcação do tempo, isso não é utopia, são as nossas falhas que provocam toda perfeição de um erro. Já imaginou você cara a cara com ela? Um quarto é pouco e tamanho é pra quem é do espaço, mesmo ficando parado você me alienou e me deixou em paz, ao mesmo tempo, me dando a opção de ser lógicopoeéticfucker. A paz no dicionário-dicionário-infinito-meu diz: liberdade pra dizer o que pensa significa, agradecer a disposição de mágicos em continuar nos iludindo com a realidade. Adir Sodré não é o cara, ele é o seu anti-depressivo grátis do mercado, sendo assim, tem seu valor intacto para até mesmo poder ser uma marca confiável, coisa que ele sempre foi e sempre vai ser inevitavelmente Adir Sodré Souza. Em sua performance na CONEXÃO NACIONAL DE ARTES EM MATO GROSSO, meus olhos contaram estas, e acho que o quarto do artista faz parte da comunidade. O quarto é lugar de dormir, mas Adir fala de um não lugar mais tranquilo, onde será? Eu acho que é ele mesmo e eu me incluo nisso.

Comentários

Postagens mais visitadas